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"Conhecereis a pós-verdade, e a pós-verdade vos enganará!"

Atualizado: 4 de set. de 2020

“CONHECEREIS A PÓS-VERDADE, E A PÓS-VERDADE VOS ENGANARÁ”

(Minha Versão 1.1)

Não sou filósofo, nem tenho a pretensão de sê-lo. Sou um apaixonado por Deus e sua Palavra, e busco entender os acontecimentos pela ótica da revelação divina.

Por isso, quando ouço tantas vozes citando João 8.32 – “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” – e usando a frase como uma espécie de mantra psicológico, percebo a distância que há entre aquilo que Jesus Cristo disse e o significado que pretendem dar às suas palavras.

O fato é que estamos vivendo sob a influência da pós-verdade. Este termo foi cunhado recentemente para explicar o fenômeno que predomina nos campos social, político e cultural. Mas, afinal, o que é a pós-verdade?

Basicamente ela é definida como a “informação que se divulga ou se aceita como fato verdadeiro, devido à forma como é apresentada ou repetida, mas que não tem fundamento real.”[1] É representada pelo “conjunto de circunstâncias ou contexto em que é atribuída grande importância, sobretudo social, política e jornalística, a notícias falsas ou a versões inverossímeis dos fatos, com apelo às emoções e às crenças pessoais, em detrimento de fatos apurados ou da verdade objetiva.”[2]

Sendo assim, a “pós-verdade é o fenômeno através do qual a opinião pública reage mais a apelos emocionais do que a fatos objetivos... a verdade dos fatos é colocada em segundo plano quando uma informação recorre às crenças e emoções das massas, resultando em opiniões públicas manipuláveis[3] (ênfase acrescentada). A pós-verdade está baseada em algoritmos e não em fatos verdadeiros. A lógica da pós-verdade está “mais concentrada na intensidade da narrativa que na exatidão dos fatos... A verdade dos fatos, tomados um a um, não conta.[4] Para quem se deixa persuadir pelas afirmações baseadas na pós-verdade “o que é verdadeiro é a mensagem no seu conjunto, que corresponde a seus sentimentos e suas sensações.”[5]

De certa forma, a pós-verdade é o desdobramento lógico do relativismo próprio da pós-modernidade. Sem querer aprofundar a análise, noto que o racionalismo dogmático dos séculos 16 em diante foi seguido pelo racionalismo cético ou questionador que marcou os séculos seguintes e a era moderna. Este racionalismo deu lugar ao relativismo que marca o final do século 20 e o início do presente século 21. É nesta progressão que chegamos à pós-verdade. Este conceito – ou fenômeno cultural – tem sido o ingrediente manipulador de opiniões públicas, seja por ideologias políticas, pela mídia informativa e até por movimentos religiosos.

Aquilo que temos vivido no Brasil e no mundo nos últimos anos nada mais é que a manipulação sistemática e orquestrada dos diversos segmentos da opinião pública. Avalie o atual embate de “opiniões”, “interpretações” e “soluções” diante da pandemia que está agredindo o mundo inteiro, e perceberá claramente como os fatos estão sendo relegados a um segundo plano em favor de interpretações particulares. A pós-verdade engana, esta é a verdade.

Quando Jesus afirmou que a verdade seria libertadora, não deixou de afirmar que ela também é condenadora. Sim, porque João 8.32 está num contexto de debate entre o Senhor, que reivindicava sua divindade e, portanto, sua messianidade e supremacia, e a liderança religiosa dos judeus, que duvidava que ele era quem dizia ser, com base em suposições equivocadas (afirmações como “da Galiléia não surge profeta”, 7.52; ou “essa ralé que nada entende da Lei é maldita”, 7.49; ou ainda quando perguntam “Quem é você?”, 8.25, logo depois de Jesus ter ousadamente anunciado: “Eu Sou”, expressão que precisa ser entendida à luz de Êxodo 3.14). A verdade a que Jesus estava se referindo era a ampla e plena revelação de Deus que ele encarnava e que anunciava a única salvação através da fé nele (“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, do seu interior fluirão rios de água viva”, 7.37-38; “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”, 8.12). Isso o levou a afirmar: Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres”. João 8.32 não pode ser compreendido à parte de João 8.36.

Esta é a única verdade que, uma vez aceita pela fé, pode realmente libertar a pessoa da escravidão ao pecado. E que, se rejeitada, mantém a pessoa aprisionada ao estado de condenação eterna. Esta verdade é tanto libertadora quanto condenadora, e não admite interpretação ou opinião divergente.

Não se deixe enganar por vozes que usam as palavras de Jesus como um mantra que visa convencer você de que tais vozes estão a serviço do Senhor. Não estão, mesmo quando revestidas de um manto de espiritualidade caracterizado por título ou cargo até mesmo eclesiástico. Não se deixe manipular por algoritmos. Concentre seus sentimentos e suas sensações no Senhor e em sua Palavra. Até porque, se nos deixarmos convencer pelas pós-verdades insistentemente proclamadas de tantos lados, acabaremos enganados. E isso pode ser tremendamente danoso para a fé.

Da minha parte, tenho decidido dar menos atenção às notícias e debates e mais atenção à Bíblia e àquilo que ela me propõe. Não leio nem escuto mensagens que me chegam pelas mídias sociais e que contenham teor político ou ideológico. Prefiro ficar com a Palavra, onde leio: “Louvado seja o nome de Deus para todo o sempre, pois a ele pertencem a sabedoria e o poder. Ele muda o curso dos acontecimentos [ou as épocas e as estações]; remove reis de seus tronos e põe outros no lugar. Dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos eruditos” (Daniel 2.20-21 - NVT).

Quando escutar ou ler alguém papagaiando as palavras de Jesus: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”, volte sua mente e coração para Aquele que fez esta afirmação e que sabia o que estava dizendo. Lembre-se de que ele também afirmou: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus”, Mateus 7.21.

A verdade é que o plano eterno de Deus está em andamento, e este plano é que, “no devido tempo, ele [Deus] reunirá sob a autoridade de Cristo tudo que existe nos céus e na terra” (Efésios 1.10). Esta é a verdade que liberta! Até que este dia chegue, temos de nos precaver ao máximo para não sermos enganados.

Victor H. Michel (03/09/2020)

[1] "pós-verdade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. https://dicionario.priberam.org/p%C3%B3s-verdade [consultado em 26/08/2020]. [2] Idem. [3] www.significados.com.br › pos-verdade [consultado em 26/08/2020]. [4] Giuliano Da Empoli, “Os engenheiros do caos”, Ed. Vestígio, 2020. P. 23. [5] Idem, p.24. Sugiro a leitura desta obra para entender a mecânica por trás da pós-verdade.

 
 
 

3 comentários


Gabriel Paolinetti
Gabriel Paolinetti
08 de set. de 2020

Reflexão rica e relevante aos nossos dias. Como seria bom que a igreja de Cristo tivesse o entendimento e compreensão que em nossos dias vigora a "pós verdade", bem como, estivesse preparada para defender-se com a verdade absoluta da palavra de Deus. Infelizmente, são poucos os que estão atentos a essa realidade e perigo. Perigo? Assim como foi bem apresentado aqui, a pós-verdade é o desdobramento lógico do relativismo. Esses desdobramentos, são apresentados como "degraus do desespero" por Fancis Shaeffer, onde o homem em sua natureza buscou uma forma de não ser confrontado pelas verdades absolutas de Deus. Durante anos, o homem vem distorcendo os absolutos, as verdades, e bombardeando fundamentos bíblicos e verdades teológicas. Para que? para sentir-se bem,…

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Robson Bracciali Barbosa
Robson Bracciali Barbosa
04 de set. de 2020

De fato a única verdade liberta, mas sabemos que Satanás que é o pai da mentira tem se aproveitado de momentos como os que estamos vivendo para propagar suas mentiras escarnecedora.

Infelizmente, nos cristãos estamos entrando nessa era dos famosos 140 caracteres e resumimos a bíblia a versículos com imagens bonitas distribuídas nas redes sociais e temos negligenciado o aprofundamento do estudo e da compreensão da palavra, e quando fazemos isso nos tornamos menos críticos aquilo que vemos e lemos e acabamos sendo manipulados e ludibriados pelas mentiras de Satanás e seus aceclas.

Que a verdade de Cristo de fato nos liberte das mentiras de Satanás.

Ótima reflexão.

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Paulo Eduardo Silva
Paulo Eduardo Silva
03 de set. de 2020

Caro Victor, que texto relevante para o tempo que estamos vivendo! Infelizmente estamos nos especializando na matéria de adaptarmos a verdade para a nossa conveniência e conforto. Ao invés de nos mantermos flexíveis a Palavra de Deus a ponto de sermos confrontados para que Cristo molde nosso caráter, preferimos distorce- la e com isso comemos o fruto do engano e da mentira.

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